terça-feira, 20 de setembro de 2016

Será que somos todos egoístas?

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"Será que somos todos egoístas?"
todo o comportamento do Homem é movido por intenções egoístas, tais como o desejo de reconhecimento público, o prazer da satisfação pessoal, ou mesmo a esperança de recompensa divina. Para começar, é preciso esclarecer que a teoria altruísta não exclui uma preocupação do Homem com o seu próprio bem (“O bem é aquilo por que tudo anseia” – Aristóteles, Ética a Nicómaco) Todo o ser racional quer o seu próprio bem. No entanto, tal não invalida que também seja capaz de se preocupar genuinamente com o bem do outro, ainda que, muitas vezes, tal preocupação apareça em plano secundário em relação ao interesse pessoal. O senso comum tem a ideia errada de que o altruísmo exclui completamente o interesse por nós próprios. Esse preconceito é, a meu ver, a razão de vários conflitos na discussão deste problema. O altruísmo implica a preocupação para com o outro, mas não exclui a preocupação com o nosso próprio bem.
Não ponho em causa que algumas (até mesmo muitas) ações humanas sejam motivadas pelo interesse pessoal, mas nem todas o são. Imagine-se um homem que faz um donativo de muito dinheiro a uma instituição de caridade e que, devido à sua boa ação, é alvo dum grande reconhecimento e admiração públicos. Aquilo que é preciso para averiguar se esta ação se trata duma ação altruísta ou duma ação egoísta é descobrir se o reconhecimento público foi um efeito pretendido ou meramente previsto da ação. No primeiro caso, ter-se-á tratado duma ação egoísta, e no segundo duma ação altruísta. Aquilo que os autores do texto afirmam é que há sempre um fim egoísta entre os efeitos pretendidos de qualquer ação do Homem. Corresponderá isto à verdade? Tentarei, através dum exemplo prático, mostrar que não. Há vários casos conhecidos de pessoas que sacrificam as suas vidas para salvar um amigo ou um familiar. A intenção de alguém que o faz é puramente altruísta, a meu ver. O seu objectivo é, única e exclusivamente, salvar a vida do amigo ou do familiar. O mais provável é, sem dúvida, que, após a sua morte, a pessoa que agiu heroicamente seja relembrada pelo universo das pessoas que a conhecem pela sua valentia e coragem. No entanto, isso está longe de constituir um efeito pretendido da ação. Não faria, aliás, qualquer sentido querer sacrificar a vida em troca do reconhecimento dum universo reduzido de pessoas. Apenas uma pessoa com desejos extremamente bizarros podia sacrificar a sua vida movida por intenções egoístas. Os autores do texto afirmam que “cada acto de aparente altruísmo pode ser justificado ou substituído por uma explicação reveladora de uma motivação egoísta.” No entanto, tal como um acto pode ser explicado por uma motivação egoísta, também pode ser justificado por um fim altruísta. Uma pessoa pode encontrar diversas explicações para uma certa acção, mas daí não se segue nada. Para uma mesma ação, podem-se especular vários motivos de natureza diversa, mas a maioria não passa de mera suposição. Logo, este não é um argumento sólido a favor do egoísmo psicológico. No entanto, esta é apenas um situação problemática extrema. O altruísmo pode-se encontrar em situações muito mais comuns no dia-a-dia. Aliás, toda a amizade se baseia na preocupação direta e desinteressada para com os outros, no altruísmo moral.
Quando nutrimos amizade ou amor por alguém, tentamos sempre zelar pelo bem dessa pessoa. O motivo pelo qual queremos sempre o melhor para aqueles de quem gostamos é puramente altruísta. Sou capaz de reconhecer que há quem ajude os seus amigos apenas porque não quer perder a sua amizade. No entanto, tal não se trata duma verdadeira amizade. Não é senão uma amizade falsa e interesseira. Uma verdadeira amizade implica que as partes se preocupem direta e desinteressadamente pelo outro. Por exemplo, quando uma pessoa dá dinheiro a uma amiga sua em necessidade (sem exigir devolução), a sua ação pode ser altruísta (se, e só se, for praticada com o intuito de ajudar o amigo e não com o de não perder a sua amizade.) Portanto, o altruísmo é condição necessária e suficiente para que existam a amizade e o amor. A amizade e o amor são um facto, logo o altruísmo também o é.
''Fabio Mozartt'' ( Evolução da Consciência). Texto completo em http://bit.ly/2deHH6x

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